DeepSeek na Prática Jurídica: uso de dados, propriedade intelectual e as responsabilidades dos usuários

Saiba como o DeepSeek trata a propriedade intelectual de dados, responsabilidades do usuário e proteção de informações.

29 de janeiro de 2025 por Tiago Fachini

A ascensão de ferramentas de inteligência artificial (IA) como o DeepSeek traz oportunidades e desafios para o Direito. Se você é advogado ou atua no setor jurídico, é crucial compreender como os termos de uso da plataforma regulam a propriedade intelectual, o tratamento de dados e as responsabilidades do usuário. Neste artigo, analisamos pontos-chave para garantir conformidade legal e mitigar riscos.

O que é a DeepSeek e o modelo R1?

A DeepSeek é uma startup chinesa especializada no desenvolvimento de modelos avançados de inteligência artificial, com foco em processamento de linguagem natural (PLN) e raciocínio lógico. Seu modelo mais recente, o DeepSeek-R1, se destaca pela capacidade de solucionar problemas complexos de matemática, programação e raciocínio lógico.

O DeepSeek-R1 foi projetado para ser eficiente e transparente, e tem como principal destaque de uso permitir que os usuários entendam o raciocínio por trás das respostas geradas. Além disso, ele é open-source, permitindo que organizações e profissionais jurídicos personalizem e até instalem o modelo localmente para garantir maior segurança dos dados.

Como é tratado o conceito de propriedade intelectual na DeepSeek?

Nos termos do DeepSeek, a propriedade intelectual é claramente segmentada:

Direitos da empresa sobre o serviço:

A empresa detém todos os direitos sobre o software, incluindo:

  • Código-fonte e algoritmos subjacentes;
  • Marcas registradas;
  • Inovações técnicas protegidas por patentes e direitos autorais (Seção 4.1).

Isso garante que o modelo continue sendo aprimorado sem interferência externa.

Direitos do usuário sobre Inputs e respostas:

  • O usuário mantém a titularidade sobre os dados inseridos (Inputs);
  • As respostas geradas (Outputs) são cedidos integralmente ao usuário (Seção 4.2).

Por que isso importa para advogados?

Ao utilizar o DeepSeek para redação de peças jurídicas ou análise de casos, é essencial:

  • Garantir que os inputs (ex.: informações de clientes) tenham dados válidos;
  • Revisar outputs para evitar plágio ou violação de direitos de terceiros.

Responsabilidade do Usuário: obrigações e limites

A DeepSeek atribui ao usuário a responsabilidade integral por:

  • Conteúdos enviados e gerados;
  • Cumprimento de leis aplicáveis, incluindo LGPD, direitos autorais e ética profissional.

Restrições da plataforma:

  • Proibição de gerar conteúdo discriminatório, violento ou que viole privacidade (Seção 7);
  • Necessidade de indicar autoria de IA ao publicar as respostas (ex.: em relatórios jurídicos).

Advogados que pretendem usar essa plataforma, precisam implementar protocolos internos para revisar as respostas, especialmente em documentos sensíveis. A DeepSeek isenta-se de responsabilidade por decisões baseadas em seus resultados (Seção 9).

Uso de dados pela DeepSeek

A plataforma utiliza Inputs e Outputs para:

  • Aprimoramento do modelo por meio de técnicas de criptografia e desidentificação (Seção 2);
  • Cumprimento de obrigações legais como monitoramento de conteúdo ilegal (Seção 3).

Direitos do usuário:

  • É possível solicitar a exclusão de dados pessoais via Política de Privacidade;
  • Após deletar a conta, a DeepSeek ainda retém informações exigidas por lei (ex.: para fins fiscais ou judiciais).

Instalação local e segurança de dados

Uma das grandes vantagens do DeepSeek-R1 é a possibilidade de uma instalação local. Escritórios de advocacia e departamentos jurídicos que lidam com informações sigilosas podem executar o modelo internamente para evitar exposição de dados a servidores externos.

Isso reduz riscos de vazamento e aumenta a conformidade com regulamentos como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Você pode ver como instalar localmente o DeepSeek R1 na sua máquina no vídeo abaixo (em inglês):

Vale a pena destacar que o desempenho da IA dependerá do hardware da máquina. Na instalação é possível escolher diferentes parâmetros da DeepSeek. O modelo 7B é um dos mais recomendados para uso do dia-a-dia e tem como requisito um computador com uma GPU de 6 GB de VRAM e 4 GB de memória RAM.

Implicações para advogados: compliance e boas práticas

  • Verificação de respostas: nunca utilize respostas do DeepSeek, ou qualquer outra IA, como aconselhamento jurídico definitivo. Sempre valide informações com fontes primárias;
  • Cláusulas contratuais: ao assessorar clientes que usam IA, inclua disposições sobre propriedade intelectual e responsabilidade por dados inseridos;
  • Transparência: documente o uso de IA em trabalhos jurídicos para evitar acusações de má conduta.

Com o aumento no uso de IA na advocacia, a OAB Nacional aprovou diretrizes para o uso IA generativa de forma ética e responsável.

O documento, que foi elaborado junto com o Observatório Nacional de Cibersegurança e Proteção de Dados, busca garantir confidencialidade, privacidade e boas práticas no uso de tecnologias avançadas no Direito. Você pode acessar as diretrizes nessa página.

Perguntas e respostas

O que é o DeepSeek e como ele funciona?

O DeepSeek é uma plataforma de inteligência artificial generativa que processa e gera conteúdos com base em entradas fornecidas pelo usuário. Seu modelo é treinado para oferecer respostas relevantes em diversas áreas, incluindo a jurídica.

É seguro utilizar o DeepSeek para criar documentos jurídicos?

O DeepSeek pode ser uma ferramenta útil para advogados, mas seu uso requer cautela. Como a IA pode gerar conteúdos imprecisos ou desatualizados, é essencial revisar as respostas e validar informações com fontes primárias antes de utilizá-las em documentos jurídicos.

Como garantir a conformidade legal ao utilizar o DeepSeek na advocacia?

Para manter a conformidade legal ao usar o DeepSeek, advogados devem evitar a inserção de dados sensíveis ou protegidos por sigilo, revisar os outputs para garantir precisão e originalidade, indicar a autoria da IA nos conteúdos gerados e incluir cláusulas contratuais claras sobre o uso de IA e propriedade intelectual ao assessorar clientes.

Conclusão

O DeepSeek oferece ferramentas poderosas, mas seu uso exige atenção a aspectos jurídicos críticos, como divisão de direitos autorais, proteção de dados e compliance ético. Os advogados devem não apenas seguir os termos da plataforma, mas também se atualizar sobre regulamentações emergentes de IA.

Além disso, a possibilidade de instalar o DeepSeek R1 localmente representa uma oportunidade para advogados que buscam maior segurança e controle sobre dados sensíveis.

Tiago Fachini - Especialista em marketing jurídico

Mais de 300 mil ouvidas no JurisCast. Mais de 1.200 artigos publicados no blog Jurídico de Resultados. Especialista em Marketing Jurídico. Palestrante, professor e um apaixonado por um mundo jurídico cada vez mais inteligente e eficiente. Siga @tiagofachini no Youtube, Instagram, Linkedin e Twitter.

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