Elisão fiscal: o que é e como reduzir carga tributária nas empresas

Entenda o que é elisão fiscal, como ela funciona no planejamento tributário, suas diferenças em relação à evasão e os limites legais para a sua aplicação.

user Tiago Fachini calendar--v1 29 de abril de 2025

O Brasil figura entre os países com uma das cargas tributárias mais elevadas e complexas do mundo. Esse cenário desafiador impacta diretamente a rentabilidade e a capacidade de investimento das organizações, especialmente daquelas que operam em setores com margens apertadas ou com alto volume de tributação indireta. A busca por soluções para reduzir esse peso leva as empresas a adotarem diversas estratégias, entre elas a elisão fiscal.

Mais do que uma tática para reduzir tributos, a elisão fiscal é uma prática que exige conhecimento profundo sobre a legislação tributária, análise econômico-financeira e planejamento de longo prazo. Neste artigo, vamos entender o conceito de elisão fiscal, diferenciá-la de outras práticas e compreender se ela pode ser aplicada de forma segura.

O que é elisão fiscal?

A elisão fiscal é o conjunto de medidas lícitas adotadas por contribuintes com o objetivo de organizar suas operações para reduzir legalmente a carga tributária. Trata-se de um planejamento tributário preventivo, no qual o contribuinte opta por estruturas jurídicas ou operacionais previstas na legislação, capazes de diminuir a ocorrência ou o impacto dos fatos geradores de tributos.

Essa conduta se fundamenta no princípio da legalidade tributária, previsto no artigo 150, inciso I, da CF. Além disso, também encontra respaldo no artigo 111 do Código Tributário Nacional (CTN), que trata da interpretação restritiva das normas que concedem isenções, incentivos ou dispensa do cumprimento de obrigações.

A elisão difere da simples economia fiscal decorrente de ineficiências administrativas. Ela requer estudo aprofundado, domínio do sistema tributário e visão estratégica sobre a estrutura do negócio. A escolha adequada do regime de tributação, por exemplo, é uma forma clássica de elisão. Optar entre Lucro Real, Presumido ou Simples Nacional pode significar a diferença entre a viabilidade e o prejuízo de uma empresa.

Além disso, a elisão permite ações como a reestruturação de cadeias produtivas, redefinição de fluxos logísticos e reorganização societária, desde que todas essas condutas estejam baseadas na legislação e não constituam simulação.

Elisão fiscal e evasão fiscal: entenda a diferença

A distinção entre elisão e evasão fiscal é um dos pontos mais sensíveis do direito tributário. Ambas visam a redução da carga tributária, mas o fazem de formas absolutamente distintas do ponto de vista jurídico e ético.

A elisão é um exercício legítimo do direito de planejar a incidência tributária, evitando o nascimento da obrigação tributária ou reduzindo seus efeitos, por meio de alternativas legais e legítimas. Já a evasão envolve fraude, dolo ou simulação, e se configura como infração à ordem tributária, sujeitando o contribuinte a sanções administrativas, civis e penais.

A jurisprudência brasileira, especialmente a do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), tem sido firme em proteger a liberdade de planejamento tributário. No entanto, também é rigorosa ao identificar e coibir práticas que extrapolam os limites legais, mesmo que travestidas de elisão.

Um exemplo é a constituição de uma empresa em estado com carga de ICMS menor para operacionalizar vendas interestaduais pode ser aceita como elisão, desde que a estrutura tenha substância econômica, empregados, instalações e real atividade no local. Caso contrário, configurará simulação, passível de desconsideração pelos fiscos estaduais.

Como a elisão fiscal funciona na prática?

A adoção da elisão fiscal pressupõe planejamento minucioso e multidisciplinar, com participação de equipes jurídica, contábil e financeira. A seguir, detalhamos as principais estratégias:

4.1 Escolha do regime tributário

A definição do regime tributário adequado (Lucro Real, Lucro Presumido ou Simples Nacional) deve considerar margens de lucro, atividade econômica, volume de receitas, folha de pagamento, existência de créditos tributários e outros elementos.

Por exemplo, empresas com custos elevados, créditos acumulados de PIS/COFINS ou margens de lucro reduzidas tendem a se beneficiar do Lucro Real. Já organizações com lucratividade consistente e poucos custos dedutíveis podem se favorecer do Lucro Presumido. A escolha incorreta do regime pode representar perda de competitividade e margem de lucro.

4.2 Reestruturação societária

Operações societárias como cisões, fusões, incorporações e constituição de holdings patrimoniais ou operacionais permitem alinhar estrutura societária à estratégia fiscal. É possível reduzir a carga tributária sobre distribuição de lucros, racionalizar o uso de créditos fiscais e facilitar a governança empresarial.

A jurisprudência reconhece a validade dessas operações quando baseadas em propósitos legítimos, como proteção patrimonial, sucessão empresarial, segregação de riscos ou ganho de eficiência administrativa.

4.3 Incentivos fiscais setoriais e regionais

O aproveitamento de incentivos fiscais federais (como Lei do Bem, Lei Rouanet, RECAP, REIDI), estaduais (como créditos presumidos de ICMS) e municipais (isenções de ISS) pode gerar economias relevantes. A utilização exige planejamento, documentação específica, adequação formal e cumprimento de obrigações acessórias.

Por exemplo, uma empresa de tecnologia pode aplicar parte de seu lucro tributável em pesquisa e desenvolvimento, utilizando a Lei do Bem para obter deduções adicionais. Já no contexto regional, estados como Amazonas, Goiás e Espírito Santo oferecem regimes especiais que reduzem a carga efetiva de ICMS sobre operações industriais e logísticas.

4.4 Planejamento contratual

Revisar contratos de fornecimento, prestação de serviços, distribuição e parcerias comerciais com foco tributário pode viabilizar redução da carga tributária. Cláusulas sobre local da prestação do serviço, responsabilidade tributária, alocação de custos e utilização de incentivos fiscais influenciam diretamente na apuração dos tributos devidos.

O uso estratégico dos contratos também pode permitir reorganizações internas, reconfiguração de centros de custo e transferência de obrigações tributárias, sempre com respaldo legal.

Limites legais e jurisprudência sobre elisão fiscal

Apesar de ser prática legítima, a elisão fiscal não é irrestrita. O limite é a legalidade e a ausência de simulação. O artigo 116, parágrafo único, do CTN, introduzido pela LC 104/2001, autoriza a desconsideração de atos praticados com finalidade exclusiva de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo.

A IN RFB nº 1.312/2012 regulamenta essa possibilidade, permitindo à Receita Federal examinar a substância das operações e desconsiderar estruturas artificiais, mesmo que formalmente válidas. Essa abordagem representa a adoção da doutrina da “substância sobre a forma”.

A jurisprudência do CARF, por sua vez, evolui no sentido de reconhecer a elisão legítima quando há propósito negocial, mesmo com redução da carga tributária. Já estruturas jurídicas que não se sustentam economicamente, com indícios de simulação ou abuso de forma, têm sido desconsideradas, com imposição de autos de infração e penalidades.

Portanto, a chave para a segurança jurídica na elisão é a documentação robusta, coerência entre os atos e a operação efetiva, além de acompanhamento técnico contínuo.

Conclusão

A elisão fiscal é uma ferramenta legítima de planejamento, essencial para empresas que desejam operar de forma eficiente, sustentável e alinhada à legislação vigente. Em um ambiente tributário complexo como o brasileiro, não utilizar os instrumentos legais disponíveis é abrir mão de competitividade e de recursos financeiros valiosos.

No entanto, a elisão deve ser conduzida com rigor técnico, respeito aos limites legais e atenção constante à jurisprudência e às atualizações normativas. O sucesso está na transparência, na documentação bem fundamentada e na orientação de profissionais qualificados.

Perguntas frequentes

O que é elisão fiscal?

A elisão fiscal é a prática lícita de planejar e estruturar operações empresariais para reduzir a carga tributária, aproveitando alternativas permitidas pela legislação. Diferentemente da evasão fiscal, que envolve condutas ilícitas, a elisão ocorre por meio de estratégias legítimas, respeitando os princípios da legalidade e da boa-fé.

Elisão fiscal é legal?

Sim. Trata-se de uma prática prevista em lei, desde que não envolva simulação ou fraude. Está embasada no princípio da legalidade tributária.

Posso aplicar a elisão fiscal retroativamente?

Não. A elisão deve ser feita antes da ocorrência dos fatos geradores dos tributos. Após isso, somente medidas corretivas ou compensatórias podem ser aplicadas.

Quais são os principais riscos da elisão fiscal?

O principal risco é a desconsideração do planejamento por parte da Receita, caso se entenda que houve simulação ou ausência de propósito negocial. Isso pode resultar em autos de infração, multas e litígios.

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Tiago Fachini - Especialista em marketing jurídico

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