Volta e meia recordo que, quando iniciei na profissão – ou melhor, ainda na faculdade de Direito -, eu tinha alguns monstros sobre a carreira jurídica que me perseguiam e que só foram derrotados com o tempo. Passaram-se os anos e, conversando com o estagiários do escritório e até mesmo colegas de profissão, percebi que alguns desses mitos persistem ainda hoje.
É isso, portanto, que me motivou a escrever este artigo. Você se reconhece neles?
Navegue por este conteúdo:
Vou ter que decorar aquele monte de leis? Não!
Entenda que você não precisa decorar nada. O que precisa é saber interpretar a legislação, identificar os problemas do cliente e fazer as peças processuais que chegarem até você. E aí, naturalmente, você vai criando a sua própria curva de conhecimento sem ter que decorar nada.
Veja: é importante demais que você tenha um poder de interpretação e de raciocínio lógico jurídico bem apurados. Mas isso é bem diferente de decorar a lei, por exemplo. No entanto, essa é uma habilidade que pode ser treinada diariamente ao longo da carreira jurídica. E isso acontece, na verdade, desde o primeiro dia que você pisar na faculdade.
Quer ter sucesso ao interpretar um texto? Então leia-o com atenção, anote as palavras que não conhecer, tenha sempre um dicionário por perto – e aqui os aplicativos ajudarão muito. E não se limite apenas aos textos jurídicos: leia tudo que aparecer pela frente, mas foque em conteúdos de qualidade.
E claro: pratique. Somente a prática da leitura facilitará sua capacidade de compreensão e interpretação de textos.
Entenda uma premissa muito importante sobre o Direito: não importa quanto anos de carreira jurídica você tenha, nem o tamanho do seu conhecimento, a leitura é sempre imprescindível. E sabe por quê? Porque apesar de parecer o contrário, o Direito é dinâmico, muda toda hora.
Então, tem que ler. Tem que ler lei. Tem que ler decisões proferidas em casos análogos ao que você está manuseando. Tem que ler conteúdo sobre produtividade. Tem que ler!
A boa notícia é que, atualmente, existem muitas formas de se consumir conteúdo. Existem excelentes audiobooks, que são os livros narrados em estúdio para que você possa ouvi-los ao invés de lê-los. Além disso, existem também os podcast, que são áudios sobre determinados assuntos, em sua maioria curtinhos, e que podem ser comparados aos vídeos que se vê no youtube, só que sem a imagem. Trata-se, portanto, de uma mídia bem nova.
O primeiro podcast, por exemplo, foi gravado em 2004 no Brasil. Hoje, eles são quase que 100% gratuitos e com conteúdo bastante rico. Há, inclusive, alguns podcasts jurídicos bem interessantes, como o do canal Amo Direito, por exemplo. Isso sem contar os inúmeros canais no Youtube que trazem excelentes conteúdos gratuitos e que também podem ajudar muito no dia a dia. Afinal, atualização jurídica e dos fatos que acontecem no mundo nunca é mais.
Mas veja: apesar das inúmeras possibilidades que encontramos, nada substitui uma boa leitura.
Outra dúvida que muita gente tem, inclusive eu tive: Terei que falar bem?
Veja: se você estiver lendo, convivendo com outros colegas, participando de debates saudáveis entre amigos, então já vai sair na frente. O ato de falar bem é consequência do seu comportamento como estudante, como profissional e, especialmente, como pessoa. Será natural.
No entanto, saiba que falar bem exige treino. Algumas pessoas nascem com o dom da eloquência, mas saiba que a oratória pode (e deve) ser treinada para melhorar cada vez mais a comunicação. Cada vez mais valorizada, a fala é uma importante característica e pode ser decisiva em sua vida pessoal e também na carreira jurídica. Pessoas eloquentes comumente são levadas mais a sério que pessoas tímidas ou que não gostam de falar em público.
Por isso, aproveito para deixar três alertas para ajudar a desenvolver o dom da fala. Parecem simples, mas, na prática, não necessariamente é tão fácil assim de praticar. Veja:
Houve um tempo que a ideia de formalidade e seriedade era estampada nos profissionais que usavam ternos escuros, gravatas, sapato social e pastas do tipo executivas. Essa crença persiste um pouco até hoje.
No entanto, os estilos são mais variados atualmente. Isso faz com que os profissionais tenham um leque de possibilidades maior, por exemplo, e fiquem mais livres para escolher sem que isso determine seu status ou a posição que ocupam. Assim, por haver mais liberdade de escolha, errar na roupa fica mais fácil.
Portanto, como se vê, a roupa social não é obrigatória todos os dias. Mas é importante que você saiba: a aparência e o comportamento de um advogado são capazes de expressar opiniões e influenciar a forma como ele é visto no mercado. E isso ocorre de forma direta e já na primeira impressão. A identidade da empresa ou do escritório onde ele trabalha, por exemplo, dependem disso muitas vezes.
Então siga pelo bom senso e lembre-se: menos é sempre mais.
Não é. Principalmente no início da carreira jurídica.
Em geral, o primeiro contato que temos com o Direito vem da TV, dos filmes, dos seriados e do noticiário. E todos eles costumam apresentar a mesma situação: uma genial performance em um caso grandioso. Crescemos assim, com essa impressão.
Tal visão, no entanto, costuma ser distorcida e representa apenas uma das tantas atividades exercidas pelos advogados. Afinal, há o direito das disputas e dos acordos, dos negócios e da militância social, do trabalho e dos trabalhadores, do poder público, da política. A variedade é grande e a rotina dos profissionais é bem diversificada. E, na maior parte do tempo, bem menos glamourosa que a mostrada nas telas.
No dia a dia, o trabalho de bastidores pode ser bem menos glamouroso que isso. É o do cumprimento de prazos, das pesquisas de jurisprudência, da elaboração de peças processuais e pareceres, da gestão de processos em andamento na Justiça e das reuniões, por exemplo.
Assim como há trabalhos que lidam com casos de grande repercussão, há outros que envolvem rotinas bem repetitivas e burocráticas. Ambos, no entanto, apresentam alguns pontos em comum: uma grande responsabilidade e, por vezes, muito estresse.
Por isso, temos que aproveitar muito os momentos em que estamos, de fato, com os clientes. Para conseguir encantá-lo, o advogado precisa descobrir o que ele considera como valor. Às vezes é uma boa briga. Outras, um bom acordo. Há aqueles que preferem um atendimento rápido e objetivo. Outros, com muita minúcia e cercado de detalhes nas explicações.
Ao adquirir essa experiência, passamos a ficar altamente preparados para eles. Uma reunião, portanto, tem que ser um verdadeiro show. E as audiências ou as negociações de um acordo também. Caso contrário, todo o trabalho pode cair por terra.