“O inferno são os outros“, escreveu Jean-Paul Sartre, em 1943, no seu tratado filosófico O Ser e o nada. O que o escritor e filósofo francês pretende com esta frase é dizer que independente do zelo que alguém tem pela sua imagem e pela sua personalidade, é a partir das relações interpessoais que estas decisões se mostram certas ou não. É no contato com o outro que a sua maneira de ser é legitimada. O seu modo de agir e ser deve, portanto, levar em consideração outras pessoas. Logo, o inferno são os outros.
Isto posto, concluímos que se relacionar com as outras pessoas se torna fundamental, seja no círculo social ou profissional. Existem mil maneiras para que alguém não tenha sucesso nisso, mas a mais comum e famosa (principalmente no meio jurídico) é a chatice. Ninguém gosta de alguém chato. Com o tempo, as pessoas o isolam e se desinteressam. Isso não faz com que o chato seja uma pessoa ruim ou um profissional desqualificado, claro que não. Pelo contrário, grandes profissionais correm o risco de serem – ou são – chatos. Alguns dele, inclusive, nem sabe que são. A cegueira geralmente é fruto da própria chatice e de comportamentos fluentes dela.
Como então, identificar um chato? Resolvemos expor três dos primeiros comportamentos de pessoas chatas, para você testar se conhece algum profissional assim ou, quem sabe, se você mesmo é um. Fique tranquilo. Não há nada ruim em ser chato. O problema é continuar chato.
Advogados estudam muito e recorrentemente. Possivelmente muito mais que boa parte da população. Faz parte do ofício estar bem atualizado e ser um articulador multidisciplinar, dissertando sobre vários temas.
No entanto, alguns advogados utilizam o conhecimento para criar uma imagem de ‘sabichão’, menosprezando e subjugando as outras opiniões. Durante uma reunião, por exemplo, fazem questão de deixar claro que existe uma diferença de nível intelectual grande entre ele e seu cliente. Isto não é verbalizado, claro, o advogado não diz claramente que é melhor que o cliente, mas percebe-se através de atitudes como excesso de juridiquês ou juridiquês desnecessário, afastando o interlocutor de uma comunicação clara.
Outro gesto que pode ser entendido como arrogância é o exibicionismo. Isto é, desde ficar falando exageradamente de suas façanhas pessoais-profissionais até querer monopolizar a discussão acerca de algum tema. Claro que falar sobre si é uma atitude bacana de aproximação com seu cliente e colegas de profissão, é uma atitude de empatia, mas tome cuidado pra não parecer uma espécie de monólogo. Um sujeito que apenas consegue falar de si e do que pensa, sempre querendo protagonismo nas conversas, é muito chato.
Uma pesquisa divulgada em 2006 pela Escola de Medicina Loma Linda, na Califórnia (EUA), comprova que o riso colabora para destruir vírus e até tumores presentes no organismo. Além disso, o sorriso controla a pressão arterial e é um exercício aeróbico. Gargalhar significa tonificar os músculos do abdômen e massagear todos os órgãos internos.
Mesmo com tantos benefícios, alguns advogados preferem adotar uma postura austera. E aqui não nos referimos à sua personalidade, que às vezes pode mesmo ser mais séria ou introvertida, mas sim ao puro mal humor, à pura chatice. Ainda mais quando o sorriso é uma característica cultural muito forte aqui no Brasil, que é internacionalmente reconhecido como um país de pessoas bem-humoradas. Sorrir não significa fragilizar a seriedade que a conversa com o seu cliente precisa. Não significa levar o lide com descaso.
Ao contrário do que se pensa, advogados antipáticos não são mais objetivos, mas pecam na comunicação devido à impaciência com seus clientes. Comparado ao profissional arrogante, o advogado antipático não quer exibir seus títulos, mas também não quer saber de conversa, atende o telefone várias vezes durante uma conversa, não escuta a outra pessoa, o que dá a impressão ao cliente ou ao colega de trabalho de alguém mal educado, amargurado e, sobretudo, chato.
‘Meu escritório não vai bem e a culpa é minha’ é o prelúdio de que as estratégias do seu negócio talvez não estejam dando certo, cabendo revitalizações. Por outro lado, esta frase indica uma honestidade que não se encontra em todos os advogados. Claro que este é um exemplo grave, quase trágico, mas colocar a culpa nos outros é algo que pode acontecer em questões corriqueiras. A sua mesa está desorganizada? A culpa é sua ou de sua secretária e estagiário? Praticamente um slogan do mundo dos negócios, e muito presente nos escritórios, o famoso ‘a culpa é do estagiário’ é o exemplo transformado em ditado popular da falta de autocrítica de profissionais à frente de um negócio. Não à toa, uma famosa frase que circula no LinkedIn alerta: 85% dos profissionais não deixam as empresas, mas os chefes.
A autocrítica funciona como uma espécie de sinalizador, uma imersão necessária que o advogado deve fazer, se possível, diariamente. É ela quem vai apontar os erros cometidos, ou melhor, as lições aprendidas. Até porque, se os seus últimos dez clientes perderam as causas, a culpa são deles [dos clientes] ou do elemento em comum em todas elas, ou seja, a defesa realizada pelo mesmo advogado? Seja honesto consigo mesmo e conquiste mais respeito dos seus colegas de trabalho e do seu cliente. Não vá bancar o chato.